Olá! Estamos de volta para vos apresentar mais um tema de extrema importância para o ser humano. Vamos ver se adivinham: é vermelho, é líquido e corre dentro de nós... O sangue, está claro!
Desde sempre teve-se a noção do grande valor que o sangue tem para a sobrevivência do Homem, mas tratava-se de um conhecimento do senso comum. Com o auge da evolução científica passou a haver um estudo intenso e profundo no que diz respeito aos constituintes do sangue que circula nos vasos sanguíneos, designando cada um e anotando a sua função específica.
Com esta nossa postagem queríamos também vos dar a conhecer uma atividade experimental realizada na aula de Biologia, chamada "Técnica do Esfregaço". É uma técnica que permite a separação de células em meio líquido.
Consiste em espalhar um fragmento de tecido ou de uma colónia sobre uma lâmina de vidro, o que irá provocar a dissociação de alguns elementos celulares e a sua aderência ao vidro. Isto forma-se numa camada fina de células, facilitando a observação.
Este método é usado na observação de sangue e outros líquidos orgânicos, onde se coloca uma gota do líquido sobre uma lâmina, e com a ajuda de uma outra lâmina ou lamela espalhamos totalmente o líquido (sangue). Depois de seco, o material é corado e fixado para conseguirmos uma boa observação ao microscópio. ESPEREMOS QUE GOSTEM!
O Sangue e os seus constituintes
O sangue é um tipo de tecido conjuntivo, constituído por células e fragmentos de células rodeados por uma matriz líquida. As células e os fragmentos celulares são os elementos figurados, o líquido é o plasma. Os elementos figurados constituem cerca de 45% e o plasma 55% do volume total do sangue que, num adulto médio, é de cerca 4 a 5 litros (L) nas mulheres e 5 a 6 L nos homens. O sangue constitui cerca de 8% do peso total do corpo.
Composição do sangue. Percentagem dos vários constituintes presentes no sangue. |
O sangue é bombeado pelo coração para os vasos sanguíneos, que se estendem por todo o corpo. O sangue ajuda a manter a homeóstase* de diversas formas.
*homeóstase - estado de equilíbrio ou estabilidade do corpo em relação às diversas funções e às diferentes constantes fisiológicas dos tecidos e dos fluidos orgânicos.
- Transporte de gases, nutrientes e produtos de degradação. O oxigénio entra para o sangue nos pulmões e é transportado por este até às células; o dióxido de carbono, produzido por elas, é levado aos pulmões por onde é expelido. Os nutrientes ingeridos, os eléctrólitos e a água são transportados pelo sangue desde o tubo digestivo até às células, e os produtos degradados pelas células são transportados para os rins, a fim de serem eliminados.
- Transporte de moléculas processadas. Muitas substâncias são produzidas numa parte do corpo e transportadas pelo sangue para outra, onde são modificadas.
- Transporte de moléculas reguladoras. Muitas das hormonas e enzimas que regulam os processos orgânicos são transportadas de uma parte do corpo para outra pelo sangue.
- Regulação do pH e da osmose. As substâncias tampão (qualquer substância que se pode ligar, reversivelmente, aos iões de hidrogénio), que ajudam a manter o pH do sangue dentro dos limites normais localizam-se no sangue. A composição osmótica do sangue também é crítica para a manutenção do equilíbrio de líquidos e iónico.
- Manutenção da temperatura do corpo. O sangue está envolvido na regulação da temperatura do corpo, porque o sangue quente é transportado do interior para a superfície do corpo, de onde o calor é libertado.
- Protecção contra substâncias estranhas. As células e produtos químicos do sangue constituem uma parte importante do sistema imunitário, protegendo contra substâncias estranhas, tais como microorganismos e toxinas.
- Formação de coágulos. A coagulação protege contra a perda excessiva de sangue quando os vasos sofrem uma lesão. Quando os tecidos estão danificados, os coágulos sanguíneos que se formam são, também, o primeiro passo para a reparação dos tecidos e para a restauração da sua função normal.
Os vários constituintes do sangue, a sua função e origem. |
Bioquímica do Sangue
A composição de materiais dissolvidos ou em suspensão no plasma pode ser usada para avaliar o funcionamento de muitos sistemas do nosso organismo. Por exemplo:
- Níveis elevados de glicose no sangue podem indicar que o pâncreas não está a ser capaz de produzir uma quantidade de insulina suficiente;
- Valores elevados de ureia são indicativos de diminuição da função renal;
- O aumento da bilirrubina pode indicar disfunção hepática ou hemólise;
- Níveis elevados do colesterol podem representar um risco acrescido para doenças cardiovasculares.
Plasma
O plasma é a parte líquida do sangue. Trata-se de um fluido amarelo pálido, composto por cerca de 91% de água e 9% de outras substâncias como protéinas, iões, substâncias nutritivas, gases e produtos de degredação. É uma substância coloidal, ou seja, é um líquido que contém substâncias em suspensão (que não depositam), a maioria das quais são protéinas plasmáticas, onde se incluem albumina, globulinas e fibrinogénio.
Plasma, Fluido intersticial e linfa |
Glóbulos vermelhos
Glóbulos vermelhos |
Os glóbulos vermelhos, eritrócitos ou hemácias, são cerca de 700 vezes mais numerosos que os glóbulos brancos e 17 vezes mais que as plaquetas. Estes glóbulos não se movem ativamente, pois são movidos através da circulação pelas forças responsáveis pela circulação sanguínea.
Glóbulos vermelhos |
Curiosidade: Tabela das concentrações de eritrócitos no sangue
Morfologia
Os glóbulos vermelhos normais são discos bicôncavos com cerca de 7,5 micrómetros (µm) de diâmetro. Os glóbulos vermelhos têm origem a partir de células altamente especializadas, que perdem o núcleo e quase todos os organelos durante a maturação. O componente principal do glóbulo vermelho é a hemoglobina, proteína pigmentada que ocupa cerca de um terço de volume total da célula e que é responsável pela sua cor vermelha.
Hemácia e sua morfologia |
Função
As principais funções dos glóbulos vermelhos são o transporte de oxigénio dos pulmões para os vários tecidos do corpo e do dióxido de carbono dos tecidos para os pulmões. Se o glóbulo vermelho romper, a hemoglobina escapa-se para o plasma, perdendo a sua função, uma vez que a forma da molécula se altera em resultado da desnaturação. A rotura do glóbulo vermelho seguida da libertação da hemoglobina chama-se hemólise.
A hemoglobina é composta por quatro cadeias de polipeptídeos e de quatro grupos heme. Cada cadeia destas, chamada globina, está ligada a um heme (molécula pigmentada de vermelho, contendo um átomo de ferro). Existem vários tipos de globinas, cada uma com ligeiras diferenças na sua composição nos aminoácidos. As quatro globinas da hemoglobinaadulta normal agrupam-se em duas cadeias alfa (α) e duas cadeias beta (β).
(a) |
Glóbulos Brancos
Os glóbulos brancos ou leucócitos, são células claras ou esbranquiçadas, sem hemoglobina, mas com um núcleo.
Leucócito |
Leucócito (Glóbulo branco) |
As células estaminais existentes na medúla óssea têm a importante função de produzir leucócitos e os outros elementos figurados do sangue, aquando da sua divisão celular, em que uma das células-filhas mantém-se como célula estaminal e a outra sofre diferenciação podendo formar-se as seguintes estruturas:
Nas preparações coradas, os glóbulos brancos fixam o corante, ao contrário dos glóbulos vermelhos que não coram.
Diapedese |
Os glóbulos brancos protegem contra os microorganismos invasores, removem células mortas e corpos estranhos do organismo. Muitos glóbulos brancos são móveis, exibindo um movimento ameboide, ou seja, têm a capacidade de se moverem com uma ameba, através de projecções irregulares do citoplasma. Os glóbulos brancos saem da circulação e entram nos tecidos por diapedese, um processo no qual ficam finos e alongados e se escapam por entre, ou nalguns casos através, das células que formam as paredes dos vasos sanguíneos.
Os glóbulos brancos podem ser atraídos para materiais estranhos ou células mortas dentro dos tecidos por quimiotaxia. A quimiotaxia é o nome dado ao processo de locomoção de células em direção a um gradiente químico. A quimiotaxia pode ser negativa (fazendo as células irem em sentido oposto de uma substância) ou positiva (fazendo estas células irem em sentido a favor de uma certa substância).
Quimiotaxia |
Os valores de leucócitos podem basear-se num leucograma, valores base que devem apresentar.
Leucograma |
No local de uma infecção, os glóbulos brancos acumulam-se, fagocitam bactérias, corpos estranhos e células mortas. A acumulação de glóbulos brancos mortos e bactérias, juntamente com líquido e fragmentos celulares, chama-se pus.
Os cinco tipos de glóbulos brancos são: neutrófilos, eosinófilos, basófilos, linfócitos e monócitos.
Neutrófilo (A), Eosinófilo (B), Basófilo (C), Linfócito (D), Monócito (E) e Macrófagos (F) |
Neutrófilos
Os neutrófilos, o tipo mais comum de glóbulos brancos no sangue, têm pequenos grânulos citoplasmáticos que coram tanto com corantes ácidos como básicos. O seu núcleo está geralmente lobado, variando o número de lobos entre dois e cinco. Normalmente, os neutrófilos permanecem em circulação durante 10 a 12 horas; em seguida, migram para outros tecidos onde se tornam móveis, procurando e fagocitando bactérias, complexos antigénio-anticorpos (antigénio e anticorpo ligados) juntamente com outros corpos estranhos.
Os neutrófilos também segregam uma classe de enzimas, os lisozimas, com a função de destruir certas bactérias. Os neutrófilos normalmente sobrevivem durante 1 ou 2 dias depois de saírem da circulação.
Eosinófilos
Os eosinófilos contêm grânulos citoplasmáticos que coram de vermelho vivo com eosina, um corante acido. São células móveis que saem da circulação para entrarem nos tecidos durante uma reação inflamatória. São mais comuns nos tecidos onde se desenrola uma reação alérgica, e o seu número no sangue aumenta em pessoas com alergias.
Aparentemente, os eosinófilos reduzem a resposta inflamatória, produzindo enzimas que destroem mediadores inflamatórios químicos, como a histamina. Os eosinófilos também libertam químicos tóxicos que atacam certos parasitas, tais como as ténias, Platelmintas, Enterobius e o Ancilostoma duodenal.
Basófilos
Os basófilos são os menos comuns de todos os glóbulos brancos. Contêm grandes grânulos citoplasmáticos que coram de azul ou púrpura com corantes alcalinos.
Os basófilos, como acontece com os eosinófilos e com os neutrófilos, saem da circulação e migram até aos tecidos, onde desempenham um papel importante em reações alérgicas e inflamatórias.
Os basófilos contêm grandes quantidades de histamina, que libertam nos tecidos para aumentar a inflamação. Também libertam heparina que inibe a coagulação do sangue.
Monócitos
Caracteristicamente, os monócitos são os maiores dos glóbulos brancos. Normalmente, permanecem em circulação cerca de 3 dias, depois abandonam-na, transformam-se em macrófagos e migram pelos vários tecidos.
Fagocitam bactérias, células mortas, fragmentos e outros detritos no interior dos tecidos. Um aumento no número de monócitos está, muitas vezes, associado a infeções crónicas. Além disso, os macrófagos podem decompor as substâncias fagocitadas, apresentado-as aos linfócitos, que assim ficam activados.
Linfócitos
Os glóbulos brancos mais pequenos são os linfócitos, a maioria dos quais tem um diâmetro ligeiramente maior que os glóbulos vermelhos.
O citoplasma do linfócito consiste apenas num fino anel, por vezes impercetível, em redor do núcleo. Embora tenham origem na medula óssea, os linfócitos migram através do sangue até aos tecidos linfáticos, onde proliferam e produzem mais linfócitos.
Existem diferentes tipos de linfócitos que desempenham funções importantes na imunidade. Por exemplo, os linfócitos B podem ser estimulados por bactérias ou toxinas para se dividirem e formarem células que produzem proteínas, chamadas anticorpos.
Os anticorpos juntam-se às bactérias e activam mecanismos que levam à sua destruição.
Os linfócitos T protegem contra os vírus e outros microorganismos intracelulares, atacando e destruindo células onde estes se reproduzem. Além disso, os linfócitos T estão envolvidos na destruição de células tumorais e na rejeição de enxertos.
Linfócito T e Linfócito B |
Plaquetas
As plaquetas ou trombocitos são minúsculos fragmentos de células compostos por uma pequena quantidade de citoplasma envolvido por uma membrana plasmática. Têm forma de disco e medem cerca de 3 mm de diâmetro. A sua superfície tem glicoproteínas e proteínas que permitem às plaquetas fixarem-se a outras moléculas, como é o exemplo do colagénio no tecido conjuntivo.
Algumas dessas moléculas superficiais, assim como as libertadas dos grânulos existentes no citoplasma da plaqueta, têm um papel fundamental no controlo das perdas de sangue.
O citoplasma da plaqueta contém ainda as substâncias actina e miosina que permitem a contração da própria plaqueta.
As plaquetas têm cerca de 5 a 9 dias de vida e são produzidas na medula vermelha e derivam dos megacariocitos (células extremamente grandes com diâmetros que atingem os 10 mm). Pequenos fragmentos dessas células soltam-se e entram na circulação: as plaquetas.
As plaquetas têm um papel essencial na prevenção das perdas de sangue, através da formação do rolhão plaquetário, que inclui os orifícios nos pequenos vasos e por último, promovem a formação e contração dos coágulos que ajudam a fechar lesões maiores existentes nos vasos.
Formação de um coágulo sanguíneo |
Coágulo sanguíneo |
Material da Atividade Experimental
- Sangue;
- Água destilada;
- Corante Hematoxilina;
- Corante Eosina;
- Lanceta;
- Álcool etílico (100%);
- Duas lâminas;
- Lamela.
Procedimento
1. Colocou-se sobre a lâmina uma ou duas gotas de sangue, e com o auxílio de outra lâmina espalhou-se bem o sangue;
2. Deixou-se secar ao ar durante 30 minutos;
3. De seguida procedeu-se à fixação: introduziu-se a lâmina num recipiente com etanol (100%) durante 3 a 5 minutos;
4. De seguida fez se a coloração com Eosina (1), mergulhou-se e agitou-se a lâmina durante um minuto;
5. De seguida fez-se a coloração com Hematoxilina (2),mergulhou-se e agitou-se a lâmina por um minuto;
6. Lavou-se a lâmina levemente em água corrente;
7. Deixou-se secar a lâmina;
8. Depois de pronta a preparação, observou-se e a analisou-se a mesma.
(1) Corante alaranjado com caráter ácido com a capacidade de corar células acidófilos como os eosinófilos. Nesta experiência tem a função de corar os eosinófilos e os basófilos.
(2) Corante azul com caráter básico. Cora células basófilas como os basófilos. Nesta experiência tem a função de corar os basófilos (células com características básicas).
(1) Corante alaranjado com caráter ácido com a capacidade de corar células acidófilos como os eosinófilos. Nesta experiência tem a função de corar os eosinófilos e os basófilos.
(2) Corante azul com caráter básico. Cora células basófilas como os basófilos. Nesta experiência tem a função de corar os basófilos (células com características básicas).
Técnica do esfregaço vista na aula prática |
Lanceta |
Colocou-se a gota de sangue sobre a lâmina e com a ajuda de outra lâmina espalhou-se bem o sangue |
Introduziu-se a preparação num gobelé com Eosina (corante alaranjado) durante 1 minuto |
Introduziu-se a lâmina num gobelé com Eosina (corante alaranjado) durante 1 minuto |
Introduziu-se a lâmina num gobelé com Hematoxilina (corante azul) durante 1 minuto |
Lavou-se a lâmina delicadamente em água corrente |
Deixou-se secar a lâmina |
Observou-se as preparações no microscópio |
Colocou-se DPX sobre a lâmina |
Colocou-se a lamela por cima da lâmina |
Imagens de alguns leucócitos obtidos por microscópio
Conclusão
Como se aperceberam o sangue é muito mais do que um líquido que corre nos nossos vasos sanguíneos, pois é ele que nos confere um conjunto de propriedades possíveis à vida como o transporte de gases, nutrientes e produtos de degradação, moléculas processadas, moléculas reguladoras, regulação do pH e osmose, e muito importante também o sistema imunitário.
Bibliografia
- Anatomia e Fisiologia / Rod R. Seeley, Trent D. Stephens, Philip Tate
Sangue |